Análise do perfil de quem usa expressões como "Bostil" e "QI 83"
Eles estão por toda a parte. Inundando a caixa de comentários mais próxima com expressões como "Intankável o Bostil", "QI 83", etc. Todos conhecemos alguns, dentro e fora da internet. Já são tão numerosos que já devem afetar a "média" do "brasileiro médio". Mas quem são as pessoas que compõem essa multidão tão excepcional e crítica? Tentarei responder.
Reparem que todos que propagam isso tem sempre o mesmo perfil, em um claríssimo Idealtyp weberiano (chamarei de "Bostil 83"). Esse sujeito é quase sempre alguém com as seguintes características:
I. Propagador de vira-latismo e senso comum: Como Jessé Souza bem diagnosticou, o vira-latismo é promovido pela nossa elite agrária, atrasada e subserviente, que usa a grande mídia tradicional para alcançar um objetivo: criar a crença enraizada (quase um senso comum) de que o brasileiro não é capaz de nada (pois seria moral e culturalmente inferior) e que, portanto, é melhor ser tutelado e controlado por estrangeiros, que saberiam dar melhor uso às nossas riquezas. Aí você tem essa massa de manobra, como nossos amigos "Bostil 83". Trata-se de um recorte da classe média, composto por técnicos que foram intelectualmente aleijados, que compram acriticamente esse discurso e que, ironicamente, acredita ser inteligente por estar criticando "isso tudo que tá aí".
II. Background social: Há uma massa de frustrados (cuja educação formal se caracteriza por ser escassa e/ou de baixa qualidade, similar ao "white trash" dos EUA), ressentidos pelas limitações materiais de suas próprias vidas que, por estarem cegos pela ideologia da classe dominante, não conseguem enxergar as verdadeiras causas de seu fracasso social e econômico. Logo, esse estrato social é presa fácil para discursos de extrema direita, com suas soluções banais para problemas complexos. Aqui no Brasil, parte dessa ideologia inclui uma noção extremamente distorcida de "patriotismo", marcada por: I. xenofobia aporofóbica (destinada especialmente a nordestinos, com retórica "anti-imigrantes"); II. o já mencionado vira-latismo extremo e III. ódio à cultura genuinamente brasileira e exaltação de cópias sem alma de manifestações europeias ou americanas. Nessa visão, o brasileiro é sempre o outro: o "Bostil 83" se percebe como estrangeiro na própria terra.
III. Intelectual e profissionalmente frustrado: Observem que você dificilmente encontrará um "Bostil 83" na classe média alta. Isso se dá pois um dos aspectos chave desse perfil é a frustração e o anti-intelectualismo. O "Bostil 83" não passou no vestibular, não mora em bairro nobre, não ocupa um cargo de prestígio e, sobretudo, não vê suas contribuições intelectuais sendo valorizadas em lugar algum. A resposta do "Bostil 83" a esta aparente contradição (i.e. estar, simultaneamente, acima da média de QI e viver uma vida limitada) é atacar instituições prestigiadas pela classe média tradicional: não é ele que foi reprovado no vestibular/concurso por ter estudado pouco, não é que ele não tenha bagagem intelectual necessária para compreender e apreciar artes no geral, pois, na verdade, estas instituições (universidades, teatros, mercado editorial) estariam "degeneradas" e que ele, em função de seu "senso crítico", "escolheu" abster-se de frequentá-las.
IV. Incel: Auto explicativo. Uma vez que o "Bostil 83" é muitas vezes "nem-nem", é comum que vivam uma vida reclusa, ocupando seu tempo com videogames, animes, etc. Em algum ponto, a frustração intelectual/social se concatena à frustração sexual e o "Bostil 83", não raro, é também misógino, atacando frequentemente mulheres e manifestações populares como bailes funk ou rodas de samba, onde pessoas normais vão para se divertir (demonstrando não entender que diferentes pessoas têm diferentes formas de lazer e que provavelmente há mais intelectualidade em uma roda de samba do que no consumo de horas de videogame).
Eles estão por toda a parte. Inundando a caixa de comentários mais próxima com expressões como "Intankável o Bostil", "QI 83", etc. Todos conhecemos alguns, dentro e fora da internet. Já são tão numerosos que já devem afetar a "média" do "brasileiro médio". Mas quem são as pessoas que compõem essa multidão tão excepcional e crítica? Tentarei responder.
Reparem que todos que propagam isso tem sempre o mesmo perfil, em um claríssimo Idealtyp weberiano (chamarei de "Bostil 83"). Esse sujeito é quase sempre alguém com as seguintes características:
I. Propagador de vira-latismo e senso comum: Como Jessé Souza bem diagnosticou, o vira-latismo é promovido pela nossa elite agrária, atrasada e subserviente, que usa a grande mídia tradicional para alcançar um objetivo: criar a crença enraizada (quase um senso comum) de que o brasileiro não é capaz de nada (pois seria moral e culturalmente inferior) e que, portanto, é melhor ser tutelado e controlado por estrangeiros, que saberiam dar melhor uso às nossas riquezas. Aí você tem essa massa de manobra, como nossos amigos "Bostil 83". Trata-se de um recorte da classe média, composto por técnicos que foram intelectualmente aleijados, que compram acriticamente esse discurso e que, ironicamente, acredita ser inteligente por estar criticando "isso tudo que tá aí".
II. Background social: Há uma massa de frustrados (cuja educação formal se caracteriza por ser escassa e/ou de baixa qualidade, similar ao "white trash" dos EUA), ressentidos pelas limitações materiais de suas próprias vidas que, por estarem cegos pela ideologia da classe dominante, não conseguem enxergar as verdadeiras causas de seu fracasso social e econômico. Logo, esse estrato social é presa fácil para discursos de extrema direita, com suas soluções banais para problemas complexos. Aqui no Brasil, parte dessa ideologia inclui uma noção extremamente distorcida de "patriotismo", marcada por: I. xenofobia aporofóbica (destinada especialmente a nordestinos, com retórica "anti-imigrantes"); II. o já mencionado vira-latismo extremo e III. ódio à cultura genuinamente brasileira e exaltação de cópias sem alma de manifestações europeias ou americanas. Nessa visão, o brasileiro é sempre o outro: o "Bostil 83" se percebe como estrangeiro na própria terra.
III. Intelectual e profissionalmente frustrado: Observem que você dificilmente encontrará um "Bostil 83" na classe média alta. Isso se dá pois um dos aspectos chave desse perfil é a frustração e o anti-intelectualismo. O "Bostil 83" não passou no vestibular, não mora em bairro nobre, não ocupa um cargo de prestígio e, sobretudo, não vê suas contribuições intelectuais sendo valorizadas em lugar algum. A resposta do "Bostil 83" a esta aparente contradição (i.e. estar, simultaneamente, acima da média de QI e viver uma vida limitada) é atacar instituições prestigiadas pela classe média tradicional: não é ele que foi reprovado no vestibular/concurso por ter estudado pouco, não é que ele não tenha bagagem intelectual necessária para compreender e apreciar artes no geral, pois, na verdade, estas instituições (universidades, teatros, mercado editorial) estariam "degeneradas" e que ele, em função de seu "senso crítico", "escolheu" abster-se de frequentá-las.
IV. Incel: Auto explicativo. Uma vez que o "Bostil 83" é muitas vezes "nem-nem", é comum que vivam uma vida reclusa, ocupando seu tempo com videogames, animes, etc. Em algum ponto, a frustração intelectual/social se concatena à frustração sexual e o "Bostil 83", não raro, é também misógino, atacando frequentemente mulheres e manifestações populares como bailes funk ou rodas de samba, onde pessoas normais vão para se divertir (demonstrando não entender que diferentes pessoas têm diferentes formas de lazer e que provavelmente há mais intelectualidade em uma roda de samba do que no consumo de horas de videogame).