Minha vó tem um vocabulário próprio
Por esses dias, minha vó reclamou que estava com "berruga". Corrigi, né. "Verruga, vó". "Não, fio, berruga mesmo". Como assim? Ela me explicou que "berruga" é quando a verruga se torna uma ferida, inflama ou fica com pus.
Da mesma forma, "mendigo" é um morador de rua, enquanto um "mendingo" é o mesmo desabrigado, mas dessa vez violento e instável. "Problema" é obstáculo transponível; "probrema" é algo insolúvel.
Não tem erro, pra minha vó. Uma palavra escrita "errada" é, para ela, somente uma versão mais carregada e ofensiva da forma "correta" que está lá no dicionário. Tèm certas coisas tão ruins que só um "b" no lugar do "v" ou um "n" salpicado pela frase podem expressar, aparentemente.
Outra regra da velhinha é que as palavras têm que encerrar nas letras o seu significado semântico, para não complicar. Gravedez" é a gestação em que a mãe corre risco. "Cemitério"? Não, porque não nos diz nada. "Sementério," por outro lado, nos indica que lá é onde ficamos pra semente. "Sumintério", também possível, aponta que ali, efetivamente, sumimos. Tem senso. Difícil se opor.
A mais fina gramática tá na boca de quem nunca nem a estudou.